segunda-feira, 19 de setembro de 2011

JOTA PRATA
- Artigo -
Quando soube que o Jota Prata havia morrido, já não dava tempo de ir vê-lo pela última vez e levarum abraço aos seus familiares e uma legião de amigos que ele foi colecionando ao longo da vida.
O Prata era meu vizinho e foi com profunda tristeza que recolhi a, para mim, surpreendente notícia. Do chefe de família, do vereador, do músico, do radialista, outros certamente possam descrevê-lo melhor, mas me sinto impelido a registrar o bom amigo, o boa praça, com quem tive a oportunidade de conviver com certa intensidade nos últimos anos.
De conversa amena e tom de voz pacífico, discorria longamente sobre suas grandes paixões secundárias – futebol, música e política. Ali no bar do Mauro, argumentava inflexível em favor de seu Corinthians. Buscava na memória os grandes jogos, os grandes lances, os grandes astros em que seu time enfrentou com sucesso seus rivais mais importantes do futebol brasileiro. Todo bom torcedor não dá o braço a torcer; assim mesmo diante de fatos e argumentos irretorquíveis permanecia impassível na defesa de seu clube. Para por fim a um debate desfavorável, tiradas bem humoradas, espirituosas, próprias de sua inteligência singular.
Bom observador da política, defendia seus pontos de vista sem agressividade, mas com a mesma paixão persistente, que não escondia vez ou outra uma pequena sombra de quem se sentia, de algum modo, injustiçado. Apenas sombra que logo se iluminava pelo sorridente “deixa prá lá”.
Era um bom contador de histórias e suas peripécias como músico e bandleader, eram engraçadíssimas. Falava de viagens, bailes, das esquisitices dos músicos, de momentos em que tiveram que abandonar palcos, voltarem corridos para Poços.  Chegou a integrar o extraordinário “Traveling Band”, liderou o expressivo JC 6 e pequenas orquestras típicas dos anos 70.
O Jota Prata era, acima de tudo, um boa praça, um amigo desses com quem a conversa é sempre prazerosa. Ficam mais vazios os locais que freqüentava. Dizia Guiimarães Rosa que certas pessoas não morrem, ficam encantadas. Tenho para mim que o Jota Prata era encantado em vida.





Paulo Tadeu é médico veterinário, ex-prefeito de Poços de Caldas, MG, e militante do PT.

Nenhum comentário:

Postar um comentário