quinta-feira, 13 de outubro de 2011

ALGO SE MOVE NOS ESTADOS UNIDOS!

- ARTIGO -

É sintomático que os meios de comunicação de massa no Brasil prefiram uma abordagem mais que discreta para tratar do movimento crescente, que ganha as ruas das maiores cidades norte-americanas. Embora com grau de adesão ainda pequeno, o movimento para ocupar Wall Street tem ganhado apoios importantes em Boston, Los Angeles e outra expressivas cidades, aterrorizando as autoridades que temem o desencadeamento de ondas de protestos por todo o país.

Convocado, inicialmente em redes sociais, por pequenos grupos de esquerda, já teve seu primeiro e grande enfrentamento com a prisão, em um só dia, de mais de setecentos ativistas, fato que revela surpresa e medo, mas também uma clara incompreensão quanto às razões e a forma que a sociedade americana reage à crise econômica provocada pelo, antes inatacável, sistema financeiro.

As razões imediatas são diversas e refletem um quadro heterogêneo de interesses, que vão desde a repulsa ao corporativismo de Wall Street às questões ambientais, passando por temas não menos importantes como a Guerra no Iraque e Afeganistão, cortes no orçamento com fortes impactos sociais, a brutalidade policial e o abandono dos veteranos de guerra. Diferentes matrizes que convergem para um espaço de forte crítica ao capitalismo sem regras implantado pelos republicanos da era Reagan, sob inspiração da soturna dama de ferro inglesa, Margareth Tatcher. Este capitalismo brutal, também rotulado neoliberalismo, jogou no lixo quase cinco décadas de estado de bem estar social, inaugurado no chamado new deal de Roosevelt, nos anos 30.

Ao entregar ao mercado, essa alegoria filosófica, sua própria gestão, o Estado neoliberal mandou o cabrito tomar conta da horta e levou o mundo a mais séria crise do capitalismo moderno, cujos resultados ainda são sentidos, ou como continuidade ou como espasmos de uma mal ainda por se resolver.

A novidade é a adesão da AFL-CIO – American Federation of Labor and Congresso of Industrial Organizations (Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais), poderosa instituição, que ao longo do século vinte limitou-se a defender interesses pontuais dos trabalhadores, abdicando de um olhar mais crítico aos rumos que a economia americana tomava.

O Movimento Occupy Wall Street, embora plural, tem clareza quanto ao foco de sua indignação – as injustiças sociais, a falta de empregos e, óbvio, os especuladores do mercado financeiro. Palavras de ordem como “Impostos é para os ricos”, “Cessem a guerra contra os trabalhadores” e “Ocupem Wall Street”, trazem para a realidade uma sociedade que se imaginava exemplo para o mundo e resolvida em suas necessidades.

Paulo Tadeu é médico-veterinário,
ex-prefeito de Poços de Caldas, MG, e
militante do Partido dos Trabalhadores.

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