sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Que se deve levar a sério no programa de Datena?

- Artigo -

O conterrâneo Luis Nassif afirmou que um jornalista de Poços, já falecido, só era desagradável quando levado a sério. Esta frase lapidar se aplica ao caso em questão. O programa tem uma inspiração no jornalismo esportivo e policial de gosto no mínimo duvidoso. Trata-se de uma receita simples que mistura a exploração das emoções mais epidérmicas ante a violência cotidiana das grandes cidades e a superficialidade no trato das matérias veiculadas ou comentadas. A cobertura do bolo é o protagonismo de figuras com grande presença de espírito e que não tem grande compromisso factual. Em síntese, trata-se de um tipo de programa popularesco onde a notícia é menos importante que a performance de seus atores. Portanto, só são desagradáveis se levados a sério.
Alguém dirá, porém, que as afirmações desmerecem a cidade. Em certo sentido, sou obrigado a concordar, mas não porque foi chamada “uma cidade de velhos”.  A população com mais de 65 anos em Poços de Caldas, segundo o último censo, está na casa dos seis por cento, com números curiosos como mais de 1.110 pessoas acima de 85 anos e 19 com mais de cem anos, sendo quatorze mulheres. Um número expressivo, que demonstra que a cidade favorece a longevidade, portanto ser, eventualmente, uma cidade de velhos nãos nos desmerece, ao contrário.
É triste pensar que aquela banca de comentaristas não tem olhos nem memória para o belo. Como não se encantar com esta moldura extraordinária da Serra de São Domingos? Que outra cidade está assim tão harmonicamente acolhida e abrigada aos pés de uma imensidão verde, por onde brotam e correm uma insondável rede de olhos dágua e pequenas corredeiras, que se juntam, que vertem rebeldes a saciar a sede de pássaros, quatis, macacos, jaguatiricas? E o capricho das redes que se infiltram, percolam e emergem como fontes para nosso consumo?  Como não ter olhos para a imensidão do Planalto e as coisas que a história dos homens e mulheres locais foram construindo e plantando? Como ficar indiferente à leveza poética das salas do aeroporto; às colunas inacreditáveis que trouxeram os trens; às casas seculares que ainda resistem; às praças e jardins; ao olhar do topo da serra; ao panorama visto da Igreja Nossa Senhora de Fátima; à singeleza profunda da Igreja de Santo Antonio; ao Palace Hotel e seu interior quase inexplicável; à caixa d’água da travessa Pará? Como não se encantar com a Praça Pedro Sanches e o Parque José Afonso Junqueira, compondo o conjunto com as Thermas e o Casino? Como não se deixar seduzir por uma gente que gosta de paz e cordialidade? É certo que os defeitos não estão no que pode, aqui, ser visto ou sentido; estão nos olhos e sentidos entorpecidos dos nossos pobres críticos.
A indignação pode até ser justa, mas dá uma importância desmedida ao fato. Defender, efetivamente, nossa cidade é fazer a lição de casa, dar mais visibilidade às coisas que temos. É claro que para isso é preciso mais competência que representação, mais trabalho sério e menos circo, mais conquistas que justifiquem os foguetes. Mas, isso é outra história, fica para o futuro.
O que pode e deve ser levado a sério no programa do Datena e companhia é que Poços de Caldas, nos últimos anos, não anda cuidando bem de sua imagem, favorecendo interpretações equivocadas, a ponto de ser destacada ainda pela lua de mel do apresentador ou pelas pré-temporadas do Corinthians, que ficava hospedado no Hotel Nacional e treinava no campo de futebol da chácara do saudoso Alexandre Bastos.
O que, aliás, não diminui minha paixão por está terra que fascinou meus olhos de menino, nos idos de 1967, despertando ali uma paixão que carrego e cultivo até os dias de hoje.

PAULO TADEU é veterinário, ex-prefeito de Poços de Caldas e militante do PT.


Nenhum comentário:

Postar um comentário